domingo, 12 de julho de 2015



Aviação comercial brasileira completa quatro anos sem acidentes fatais


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A aviação comercial brasileira está há quatro anos sem registros de acidentes fatais, o terceiro período mais longo na história do país. A ocorrência mais recente foi em 13 de julho de 2011, quando um Let L-410 da NOAR Linhas Aéreas caiu em Recife após a decolagem do aeroporto de Guararapes e vitimou 16 pessoas.
Esse intervalo com acidente fatal zero demonstra que voar a bordo de uma aeronave de uma companhia aérea brasileira é cada vez mais seguro. Nem sempre foi assim.
Entre 1938 e 1965, por exemplo, não houve um ano sequer sem esse tipo de ocorrência. Mais que isso. Houve anos em que o número de registros chegou a seis (1949, 1950 e 1958) e mesmo a sete (1951). Da década de 1990 para cá, entretanto, os períodos de hiato têm sido mais comuns. (veja infográfico abaixo)
“Quando atingimos níveis como esse, de uma sequência grande sem acidentes fatais, é porque todos os agentes dessa cadeia foram se aprimorando ao longo do tempo. No caso das empresas aéreas, muita coisa é implementada continuamente. O tempo todo estamos desenvolvendo ferramentas para melhorar a atividade operacional”, diz o diretor de segurança da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Ronaldo Jenkins.
Queda de avião da NOAR Linhas Aéreas em 13 de julho de 2011 é o acidente fatal mais recente na aviação comercial brasileira (Foto: Alexandre Gondim/Reuters)Queda de avião da NOAR Linhas Aéreas em 13 de julho de 2011 é o acidente fatal mais recente na aviação comercial brasileira (Foto: Alexandre Gondim/Reuters)
É também uma questão de sobrevivência. Não há situação pior para uma empresa aérea do que um acidente com vítimas. O custo, não só financeiro, mas de imagem é tão grande que não vale a pena arriscar. Uma visão que mudou nos últimos anos, quando as operadoras deixaram de ser corporações familiares e entraram de vez em um mundo corporativo e com muitos interessados no retorno financeiro.
“Quando uma empresa aérea tem um acidente, gera um prejuízo muito grande. Tem seguro, indenizações, concorrência que rouba os passageiros. Quando isso acontece, ela reage e presta mais atenção à segurança. É subsistência”, opina o especialista em segurança de voo, Jorge Barros.
Não por acaso que dentro das companhias aéreas há um investimento alto em sistemas e procedimentos para monitorar as aeronaves. Qualquer situação fora do padrão operacional é rapidamente identificada e analisada para que as equipe de solo atuem de forma preventiva.
A prevenção, aliás, é o principal aliado para evitar os acidentes aéreos. Ela, no entanto, não pode ser exclusividade das companhias aéreas. As autoridades da aviação civil, administradores de aeroportos e órgãos de controle do tráfego aéreo precisam caminhar lado a lado.
Nem sempre, porém, é o que ocorre. A infraestrutura ainda é um gargalo a ser superado. É um dos fatores que poderia ter evitado, por exemplo, o maior acidente da história da aviação comercial brasileira. Em 2007, um Airbus A320 da TAM não conseguiu frear durante pouso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A pista curta, sem área de escape, pesou para o sinistro – outros fatores também contribuíram para o desastre.
Acidente com Airbus A320 da TAM em Congonhas, em 2007, foi o maior da história no país: 199 vítimas (Foto: Rickey Rogers/Reuters)Acidente com Airbus A320 da TAM em Congonhas, em 2007, foi o maior da história no país: 199 vítimas (Foto: Rickey Rogers/Reuters)
“O problema de infraestrutura é fruto de fluxo de trabalho falho. Quando o sistema é mal administrado, os acidentes começam a acontecer”, reforça Barros, que vai além. “O ambiente de negócios no Brasil às vezes incentiva o acidente. Às vezes tem demanda de voos em um aeroporto que não tem estrutura e a companhia quer usufruir dessa demanda. Nesse ponto, as autoridades da aviação civil precisam ter simbiose com as companhias aéreas, cada um fazendo sua parte, para viabilizar acesso àquela região”, completa.
Há, entretanto, uma relação mais próxima entre companhias e administradores de aeroportos e órgãos de controle do tráfego aéreo. Qualquer mínimo problema identificado em aeroportos é reportado e analisado em conjunto para que não represente novo risco. Além disso, dentro do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), órgão responsável pelo fluxo do tráfego aéreo no país, há representantes das empresas trabalhando em conjunto com controladores de voo.
Utopia
Por mais que se tente zerar o número de acidentes, não há como chegar a esse objetivo. É impossível. “Trabalhamos para atingir a perfeição, mas a qualquer momento pode acontecer um acidente. É utópico pensar que não vai ocorrer”, avalia o chefe da seção de divulgação e controle da subdivisão de prevenção do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), o major aviador Daniel Duarte Moreira Peixoto.
Se as máquinas ficam cada vez mais modernas e confiáveis, não há como dizer o mesmo do ser humano. É ele o elo mais fraco de toda a cadeia, mesmo que receba treinamento adequado e conheça todos os padrões de operação. E não se trata apenas de pilotos ou controladores de voo, mas também de equipes de planejamento e de manutenção. Uma pequena ação fora do lugar é o suficiente para desencadear uma sequência de eventos que pode resultar em uma tragédia.
“A evolução tecnológica é muito grande, mas o ser humano é o mesmo da época do 14-Bis [avião idealizado por Santos Dumont, que voou em 1906]. O ser humano vai continuar errando. A melhor forma, a mais efetiva, é minimizar os erros ao investir em treinamentos”, acredita o major aviador Peixoto. “A chance de ter uma falha é grande. Mas todos nós, de todos os segmentos, estamos nos aprimorando”, garante Jenkins.

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